quarta-feira, 13 de março de 2013

[Fanfic] Dear Sun - Capítulo 37




Capítulo 37

                                Harumi mantinha o pescoço bem coberto pelo cachecol enquanto caminhava ao lado das amigas até o portão da escola. Estava muito frio e a mochila pesava em suas costas. Depois de uma breve busca, percebeu que a mãe não a esperava e, desanimada, encostou-se ao portão. Assim que viu o familiar carro prateado de vidros muito escuros estacionado num local próximo correu até ele. A porta foi aberta pelo lado de dentro e Harumi logo largou-se no banco de trás.
                – Tio Jun! – exclamou, esticando-se para abraçar Jun.
                – Você está gelada, meu anjo. – ele apertou as bochechas dela, aumentando o aquecedor do carro.
                – O que está fazendo aqui? – tirou o cachecol e aninhou-se nos bancos de couro.
                – Sua okaasan pediu para eu vir buscá-la, então terminei as gravações e vim. – ligou o carro.
                – Hum, está tudo bem?
                – Hai, só frio, né? Acho que vai nevar hoje.
                – A okaasan está trabalhando mais do que deveria, ultimamente. – Harumi constatou, preocupada com a mãe.
                – Verdade, né? – Jun concordou – E então, o que vamos fazer até sua okaasan sair do trabalho?
                – Podemos ir pra um lugar quente? – os lábios de Harumi ainda estavam levemente arroxeados.
                – Para onde quiser. É você que está no comando. – ele dirigia calmamente, sem destino certo.
                – Certo, então quero ir para o seu apartamento e depois podemos pedir uma pizza. O que acha? – sorriu amarelo. Harumi adorava o apartamento de Jun.
                – Como eu disse, você é quem manda. – fez o retorno, visivelmente feliz por poder ir pra casa depois de um dia cansativo de trabalho.
                Harumi achava o apartamento de Jun um lugar mágico, especialmente a vista da janela do quarto dele. Deixou a mochila sobre o sofá e correu para lá, quase encostando o nariz ao vidro. O sol estava se pondo, o céu colorido de rosa, amarelo e azul. As árvores de cerejeira estavam totalmente sem folhas ou flores.
                – Lindo né? – Jun aproximou-se – Eu realmente deveria olhar por essa janela mais vezes.
                – Deveria mesmo.
                – O que acha de tomar um banho para se aquecer de verdade? Há algumas roupas suas aqui em algum lugar. – ele sorriu, lembrando-se do dia que pedira para Eloise deixar algumas mudas de roupa da pequena em sua casa.
                – Hum, estou indo. – deu uma última olhada pela janela, então pegou a toalha que Jun lhe estendia e saiu do quarto, indo em direção ao banheiro.
                – Vou deixar a roupa sobre a cama. – ele avisou, colocando carinhosamente as roupas dela em cima da cama do quarto de hóspedes.
                Harumi saiu do quarto vestindo uma roupa quentinha e encontrou Jun na sala, com os cabelos molhados, enrolado a um cobertor. Ele convidou-a para se sentar ao seu lado, sorrindo.
                – Já pedi a pizza. – Jun disse. Ele sempre se sentia tão bem ao lado de Harumi.
                – A de sempre? – ela inquiriu.
                – Certamente.
                – Né, a okaasan deve estar com frio. – enrolou-se mais ao cobertor.
                – Logo, logo ela chega. – ele trocou de canal.
                – Hum, tio Jun, posso fazer uma pergunta? – ela sentiu sua face queimar.
                – Todas que quiser.
                – Será que um dia vou poder te chamar de otousan? – sentiu também, os olhos marejando e virou-se para a televisão.
                Jun sentiu aquelas palavras atingirem-no com uma força inimaginável e permaneceu alguns segundos sem reação alguma. Ele sempre a viu como uma filha, ou algo do gênero. Certamente ele a amava, assim como amava sua mãe, e queria mais que tudo poder chamá-la de filha.
                – Talvez um dia, né? – ele sorriu, bagunçando o cabelo dela.
                O interfone tocou estridente e Jun levantou-se num salto. Saber que Harumi o queria como pai era a constatação de que ele realmente deveria correr atrás de Eloise.
                – Vou descer para buscar a pizza. Logo volto. – ele puxou a porta atrás de si.
                Harumi pegou o controle e mudou o canal. Estava passando o dorama de Jun com Aiba.
Alguns minutos depois, o elevador parou em frente à porta de Jun e ele ouviu uma gargalhada alta vindo do interior do apartamento. Abriu a porta silenciosamente e observou Harumi. Ela assistia ao seu dorama e estava rindo de Aiba.
                – O que é que está tão engraçado? – Jun perguntou, deixando a pizza sobre a mesa de centro.
                – O Tio Masaki é terrível como vilão! – ela ainda ria, os olhos fixos na TV.
                – Deixe-o ouvir você dizendo isso. – ele riu junto – A propósito, isso não é dorama pra meninas da sua idade – tomou o controle.
                – Tio Jun! – Harumi reclamou quando Jun desligou a TV.
                – Depois que comermos eu ligo novamente... só que não nesse canal. – ele abriu a caixa e o cheiro da pizza encheu o ambiente.
                – Parece gostoso. – ela esticou a mão para pegar a pizza – Só falta a okaa...
                A campainha tocou estridente, interrompendo Harumi.
                – Não falta mais! – Jun disse, correndo até a porta.
                Mesmo escondidos sob o cachecol, os lábios de Eloise estavam roxos e a face vermelha, como se ela estivesse envergonhada. Uma touca cobria seus cabelos e ela vestia um grande casaco preto. Parecia muito cansada.
                – Yo! – Eloise cumprimentou-os, sorrindo.
                – Entre. – Jun deixou que ela passasse, e fechou a porta.
                Enquanto ela tirava todos os casacos e pendurava-os no armário ao lado da porta, Jun quase pode vê-la descongelando.
                – Desculpem a demora, tive que cobrir uma pauta numa cidade vizinha e acabei me atrasando. – ela abraçou forte a filha, afagando-lhe a cabeça.
                – Tio Jun disse que vai nevar. – Harumi sorriu.
                – Odeio o frio, mas eu gosto tanto da neve. – ela comentou, sentando-se ao lado da filha e puxando a ponta do cobertor.
                – Hum, vamos comer? Vai esfriar. – Jun sentou-se em frente à pizza e escolheu um pedaço.
                – Com a fome que estou, tudo o que eu queria era uma pizza. – Eloise comentou, entregando um pedaço grande para a filha e pegando um para si.
                Logo a caixa de pizza estava vazia, Jun e Eloise conversavam normalmente enquanto Harumi assistia a um anime na TV. Certamente ela não se lembrava do que havia dito a ele há alguns dias atrás. Harumi levantou-se silenciosamente e foi para o quarto de Jun, olhar pela janela novamente, deixando os dois a sós.
                Com a saída de Harumi, Jun percebeu a deixa. Ele sentou-se ao lado de Eloise e sem hesitar, segurou sua mão. Ainda estava gelada e ele pôde ver os pelos do braço dela se eriçando ao seu toque.
                – Ainda está com frio. – ele falou, aproximando-se mais e lhe envolvendo num abraço.
                – Jun, o que está fazendo? – perguntou, sem entender o que estava acontecendo.
                – Te aquecendo. – sorriu, enterrando seu nariz nos cabelos dela.
                – Está tudo bem, Jun, logo vou ficar quentinha. – sorriu de volta.
                – Elô, tem uma coisa que eu queria te dizer.
                – Sabe que pode dizer. – um sorriso tranquilo estava estampado em sua face, mas ela sentiu seu coração disparar levemente.
                – Certo. – então ele aproximou-se novamente e, sem que ela pudesse reagir, colou seus lábios aos dela. Foi um beijo lento e ritmado, que ignorava as batidas rápidas e inconstantes de ambos os corações.
                – O que está fazendo? – Eloise conseguiu dizer, entre os beijos, mas sem parar.
                – Aquilo que eu queria dizer, sou melhor em mostrar. – ele olhou-a nos olhos enquanto falava, então tornou a beijá-la.
                Em momento algum ela empurrou-o ou recusou o beijo, estava respondendo melhor do que ele havia imaginado. Depois de vários minutos, Jun se afastou alguns centímetros para que pudesse olhar dentro dos olhos dela.
                – Não vou me desculpar como da primeira vez. – Jun sorriu, afagando a bochecha queimada de frio dela – Esperei quase oito anos por isso.
                – Jun, não... – ela começou.
                – Escute. – ele disse, sério – Há oito anos eu disse que te amava, e eu ainda a amo mais que tudo nesse mundo, então por favor pare de ser teimosa.
                – Eu... eu... – tentava pensar em algo que não soasse infantil – Eu não posso.
                – Você pode sim, nós podemos. Eu sei que gosta de mim. – passou a mão em seu pescoço quente – Elô... Ise-chan, eu te amo... Aishiteiru yo.
                – Nunca duvidei disso, mas acho que eu não vou corresponder do jeito certo. – Eloise tirou com cuidado a mão dele de seu pescoço.
                – Já está correspondendo, só você não percebe. – apertou a mão dela – Haru me perguntou quando poderia me chamar de otousan. Até ela percebeu.
                Então, uma única lágrima escorreu pela face dela e ele secou carinhosamente. Ela, enfim, aproximou-se dele e enterrou sua cabeça no peito de Jun.
                – Hontou ni gomenasai... me desculpe por fazê-lo esperar tanto tempo. – ela disse, erguendo o rosto e depositando um beijinho em seu queixo.
                – Eu nunca me cansaria de esperar. – segurou o rosto dela contra o seu, nariz com nariz.
                – Aishiteiru yo. – ela sussurrou, olhando no fundo dos olhos dele.
                Eloise encostou-se em Jun, deixando que ele a envolvesse com seu calor e a aquecesse. Vários minutos depois, foram até o quarto, onde encontraram Harumi olhando sem piscar, para a janela. Aproximaram-se, Jun segurava firmemente a cintura de Eloise com uma das mãos. 
                A vista era impressionante, ainda mais bonita do que quando as sakuras floresciam ou quando o sol estava se pondo. O céu escuro em contraste com a cidade brilhante pelas luzes de néon dava espaço para pequenos flocos de neve, que flutuavam até o chão juntando-se em montinhos.
                – Haru, agora já pode me chamar de otousan. – Jun sorriu, abraçando-a enquanto observava a neve cair.

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