sábado, 11 de maio de 2013

[Fanfic] Maboroshikutemo - Capítulo 1




Capítulo 1 – Máscaras


                Há algumas pessoas que você não sabe se são elas mesmas ou se escondem atrás de máscaras, se elas criam um personagem perfeito.


– Já chega! – Jun gritou, saindo do camarim. A porta bateu atrás de si enquanto os outros o obsevavam, perplexos.
                – O que aconteceu? – Ohno perguntou, assustado. Desde que saíram do palco, Ohno sentara-se numa poltrona, esperando o corpo esfriar e o banheiro ser desocupado, calmamente.
                – Estressou por ter que esperar o Masaki sair do banho... – Sho disse, indignado com a reação de Jun. Certamente não era a primeira vez, mas ainda assim, Sho esperava que o amigo tivesse amadurecido.
                – Está ficando cada dia mais difícil lidar com os caprichos dele. – Nino murmurou, sem erguer os olhos do DS.
                Aiba estava no banho e os outros esperavam sua vez na ducha do camarim. O microfone de Jun parou de funcionar duas vezes durante o show e quando estavam deixando o palco, este escorregou numa poça d’água, caindo de bunda sobre o primeiro degrau, abriu um sorriso e acenou para as fãs. Desde então, reclamou de tudo o que podia, e por fim, Aiba foi o alvo.
                – Hum, mas não vamos falar nada... – Ohno disse, cobrindo os olhos com a toalha que tinha em volta de seu pescoço – De um jeito ou de outro, precisamos dele tanto quanto ele precisa de nós.
                Quando Ohno percebia que a situação estava ficando complicada, sempre acalmava a todos, mantendo o grupo unido, afinal, era essa a tarefa do líder.
                Nino preferia não falar, mas quando este abria a boca, sempre era para colocar mais lenha na fogueira, tornando as brigas ainda mais tensas e dando mais trabalho para Ohno, que intervinha com sua incrível paciência.
                Sho era aquele que acendia a faísca, deixando Jun ainda mais irritado, e trazendo suas reclamações à tona. E quando o mais novo dizia o que os outros não queriam ouvir, Sho era o primeiro a brigar com ele.  Afora isso, ele era extremamente cordial e cavalheiro.
                Aiba ficava de fora de todas as brigas, o ponto neutro, e geralmente se sentia culpado por tudo que acontecia, mesmo que a culpa não fosse sua. Por ele ser doente, tinha alguns privilégios – como tomar banho primeiro – e Jun sempre reclamava, fazendo com que ele se sentisse mal.
               
Não suporto mais carregá-los nas costas”, Jun pensava enquanto atravessava o longo corredor para a saída dos fundos do Dome. Sua bunda ainda doía e tudo o que precisava era um banho quente para levar embora aquele suor que tornava sua pele pegajosa. Arrancou a camisa fechada com velcro – figurino do show – e jogou no meio do corredor, esquecendo-se completamente do frio que fazia do lado de fora.
                Ao abrir as portas foi imediatamente atingido pelo ar gelado e alguns flocos de neve que derretiam antes de tocar o chão. Olhou para os dois lados, para ter certeza que não encontraria nenhuma fã retardatária, e correu até seu carro. O banco de couro gelado em contato com sua pele quente fez com que um arrepio percorresse sua espinha. Acionou o aquecedor, pegando sua bolsa no banco de trás e agradecendo a si mesmo por ter lembrado de trazer um casaco.
                Após vestir o casaco, dirigiu até sua casa, e pediu que a empregada preparasse o jantar e um chá bem quente. Não era um bom momento para adoecer.
                Em seu quarto, fechou todas as cortinas, apagou as luzes e após tirar o resto das roupas, enfiou-se na banheira de água morna. Sentiu seus músculos relaxarem enquanto ouvia sua música preferida dos Beatles. Afundou a cabeça e aguardou alguns segundos enquanto refletia sobre seu desempenho no show. Emergiu, concluindo que não poderia mais adiar a conversa com o chefe.
                Passados alguns minutos, envolveu-se numa toalha branca macia e assim,após tomar o chá que lhe fora preparado, adormeceu sobre sua enorme cama de dossel, ignorando o prato de comida. Ele estava esgotado.
               
                O Pub estava cheio, e os quatro estavam na salinha que sempre reservavam, os copos de cerveja gelada sobre a mesa. Nem mesmo o frio era motivo para deixar de beber uma boa cerveja após o término de um show.
                – Né, cadê o MatsuJun? – Aiba perguntou enquanto bebericava sua cerveja.
                Quando Aiba saiu do banho e perguntou por Jun, os três desconversaram. Certamente Aiba sabia que Jun era complicado, mas invariavelmente sentia-se mal pelas discussões.
                – Foi direto pra casa... – Sho começou, e sem saber exatamente o que dizer, encarou Ohno, seus olhos praticamente implorando por ajuda.
                – A bunda dele estava doendo. – foi Nino quem completou, rindo.
                – Ah, devia estar doendo mesmo. – Aiba riu e todos riram junto, nervosos.
                Quando Aiba fora internado, ainda em 2011, todos ficaram muito preocupados, inclusive Jun – mesmo que fosse por interesses próprios, afinal, Arashi não é Arashi sem Aiba – e agora, zelavam pela saúde de Aiba.
                Com várias garrafas de cerveja vazias sobre a mesa, os quatro se despediram quando o dia estava quase amanhecendo.

                Jun andava aparentemente despreocupado pelo corredor até a sala do chefe, mas, por dentro estava muito nervoso. Há muito tempo vinha adiando esta conversa, e temia uma recusa.
                Levou a mão até a porta de madeira cara e bateu com os nós dos dedos, duas vezes. Um segundo se passou até que a voz abafada de Johnny Kitagawa pedisse que ele entrasse. O chefe levantou-se, retirando os óculos e observando-o com ar cansado.
                – Sente-se. – Kitagawa disse, também sentando-se e recolocando os óculos.
                Antes de sentar-se totalmente ereto na cadeira de couro, Jun curvou-se.
                Johnny Kitagawa era uma pessoa que Jun realmente respeitava, um dos maiores agenciadores de talentos do Japão, e que mesmo com a idade avançada continuava trabalhando. Certamente, ele logo entregaria a cadeira, Jun não sabia para quem, pois não tinha filhos.
                – Kitagawa-san... – Jun começou, mexendo nervosamente nos cabelos.
                – Seja breve, por favor. – Johnny falou, sem levantar os olhos dos documentos que analisava.
                – Senhor, eu acho... eu acho que... – Jun gaguejou, respirou fundo e prosseguiu, tentando se acalmar – Senhor, eu gostaria de seguir solo.
                O som da caneta sendo solta sobre a mesa de madeira polida ecoou pela sala bem decorada. Johnny retirou os óculos novamente, sentou-se ereto, deixando os papéis de lado e olhou diretamente para Jun.
                Jun, com o peso daquele olhar sobre si, sentiu-se pequeno. Jun não gostava de se sentir pequeno. Os poucos segundos que se passaram, pareceram horas, até que Johnny abriu a boca.
                – Está louco, não é? – disse, por fim.
                Jun abriu a boca para falar algo, mas as palavras se perderam antes de ganharem som.
                – Deixe-me explicar uma coisa. – Johnny arrumou-se novamente na cadeira, curvando-se sobre a mesa – O Arashi só é o que é, porque vocês cinco se completam. Nenhum de vocês sozinhos, nesse momento, faria tanto sucesso quanto fazem juntos. E, de jeito nenhum, eu destruiria o Arashi para atender seu desejo egoísta.
                Na breve pausa que se seguiu, Jun permaneceu estático, e o silêncio era quase palpável no aposento.
                – Acho que suas férias já venceram... tire uns dias, viaje e apague essa ideia de sua cabeça.– ele nem mesmo aumentou o tom da voz enquanto falava – Não quero que isso chegue aos ouvidos dos outros. Sugiro que continue dando seu melhor no Arashi e tenha certeza que o dia que estiver preparado para seguir solo, será o primeiro a saber.
                Voltou a acomodar-se na cadeira, recolocando os óculos e retomando a analise dos documentos. A conversa havia terminado.
                – Arigatou, senhor. – Jun levantou-se e curvou-se antes de sair.
                Ao fechar a porta, percebeu que suas mãos tremiam, e sentiu sua face queimar. Enfiou as mãos nos bolsos, passou na sala do Arashi pegar sua bolsa e deixou o prédio da JE. Já dentro de seu carro, ligou para Kumiko, a manager do grupo e avisou que o chefe o havia liberado, desligou antes que ela respondesse qualquer coisa.
                Bateu a cabeça no volante do carro algumas vezes, xingando e tentando se acalmar, antes de dar a partida e seguir até sua casa. Ele não sentia vontade de viajar para lugar algum.
                Nem deu-se ao trabalho de avisar o restante do grupo, afinal, eles logo saberiam.
                Passou os primeiros dias trancado em casa, jogado no sofá assistindo à filmes americanos em sua imensa televisão, enrolado em cobertores, o aquecedor desligado.
                Todas as noites, seu sono era perturbado pelo mesmo sonho: ele seguia por um túnel, aparentemente sem fim, e sempre descendo. Depois de um tempo, sentia o ar lhe faltar e quando pensava que não tinha mais saída, uma moça de longos cabelos negros – a qual nunca conseguiu ver a face – surgia e o guiava até que pudesse ver o céu azul. Quando chegavam à superfície, Jun afastava o cabelo de sua face e, por fim, acordava suado e ofegante.
                Ao fim da primeira semana foi visitar sua mãe, que agora morava sozinha. Sua irmã havia se mudado para a Inglaterra, onde estava finalizando o mestrado, e seu pai falecera há alguns anos. Ele tinha problemas de coração e morrera dormindo. Sua mãe, Mieko, fazia valer o significado de seu nome, e mesmo não sendo mais tão nova assim, ainda era muito bela.
                Quando soube que o filho vinha, depois de tanto tempo, tratou de preparar tudo o que Jun gostava de comer e paparicou-o durante todo um dia. De noite, insistiu que ele ficasse para dormir.
                Jun deitou-se na cama que fora sua quando criança e logo adormeceu. O mesmo sonho novamente, e antes que a moça chegasse para resgatá-lo, sentiu seu corpo tremer e acordou. Sua mãe o chacoalhava.
                – Está tudo bem, meu menino? – perguntou, preocupada.
                – Hum, está sim, okaasan. É só um pesadelo... estou me acostumando já. – falou enquanto secava o suor da testa.
                – Você parecia estar sufocando... – ela sentou-se aos pés da cama e passou as mãos sobre os pés de Jun.
                – Não se preocupe, está tudo bem. – ele aproximou-se mais dela e envolveu-a com um dos braços.
                Depois do falecimento de seu pai, Jun e a mãe se tornaram ainda mais próximos, e era com ela que Jun esquecia tudo e voltava a ser um menininho. Quando ele fora atropelado, aos sete anos, a mãe passou os dois meses que esteve internado ao seu lado, o apoiando. Todas as noites, ele dormia segurando a mão dela. A relação dos dois era muito próxima.
                – Vou fazer um chá. – ela levantou-se, indo para a cozinha.
                Jun levantou-se e olhou o pijama que outrora fora de seu pai, sentiu saudades. Não eram muito próximos, mas, de qualquer modo, saber que ele não estava mais ali fazia diferença.
                Enquanto a mãe preparava o chá, Jun seguiu até a varanda e acendeu um cigarro. Sentou-se no chão e sentiu a brisa fria. Depois de algumas tragadas, a mãe o chamou. Ele apagou o cigarro e entrou. Ela estava sentada, duas xícaras sem alça sobre a mesa baixa. Bebericou o chá e sentiu seu corpo se aquecer, desejando que a mãe pudesse acordá-lo dos pesadelos todas as noites e preparar-lhe chá.
                Mieko passou a mão nos cabelos do filho, e quando terminou o chá, deu dois tapinhas nas pernas, pedindo que ele deitasse a cabeça ali. Mexeu em seu cabelo até que adormecesse completamente, então chamou-o baixinho e ajudou-o a chegar no quarto, com os olhos fechados para que não despertasse por completo. Cobriu-o bem e apagou a luz.
                – Okaasan. – Jun chamou, sem abrir os olhos.
                – Hum? – ela respondeu, apoiada ao marco da porta.
                – Fica comigo? – estendeu a mão.
                Mieko aproximou-se e deitou-se junto à Jun, no pequeno pedaço da cama que sobrava. Ele jogou as cobertas sobre a mãe.
                – Sinto sua falta, okaasan. – Jun sussurrou, pegando no sono em seguida.

                No dia seguinte, depois de tomar o café da manhã com sua mãe, Jun voltou para seu apartamento, prometendo visitá-la com mais frequência.
                Dedicou-se, nos dias seguintes a escrever. Ele sempre escrevera, mas raramente suas ideias para músicas eram aceitas, sempre diziam que faltava alguma coisa nelas. Talvez faltasse sentimento.
                Houve um dia em que escreveu sobre o pai, sobre sua mãe e com lágrimas nos olhos, deixou a letra junto às outras pilhas de músicas que havia escrito. O sonho continuava o atormentando.

                Finalmente, seus 15 dias de folga chegaram ao fim e ele pode voltar à JE. Os outros estranharam quando o ouviram dizer “Ohayou” assim que entrou na sala do Arashi. Tiveram uma breve reunião para que Jun ficasse a par de tudo o que acontecera nos dias que estivera fora e logo, cada um seguiu para suas obrigações.
                Pela manhã, Jun gravou um cm para a Kosé e depois do almoço, encontrou os outros no estúdio para gravar o Arashi ni Shiyagare. Esforçou-se para participar das conversas. Ele queria mostrar ao chefe que merecia seguir solo.
                No fim da tarde, foram informados de que no dia seguinte haveria uma grande reunião na agência.

                Chegou cedo à JE, onde Kumiko pediu que se sentassem à mesa de reuniões. A sala do Arashi era grande, todas as paredes cobertas de espelhos, e em um dos cantos havia uma mesa usada para as reuniões. Passou a agenda de cada um deles e dispensou-os.
                Jun pegou as chaves do carro e saiu. Quando estava próximo de seu carro percebeu que havia algo errado. Aproximou-se mais, analisando o para-choque traseiro: a parte esquerda estava destruída. Um cartão fora colocado sob o limpador de para-brisa.
                Analisou o cartão e encontrou o nome “Maeda Yuuki”, sorriu. Guardou-o no bolso, pensando em ligar mais tarde e torcendo para que ela arcasse com o prejuízo. Entrou no carro, estava atrasado para a gravação de um comercial.
                Almoçou sozinho num pequeno restaurante em Roppongi e voltou para a JE.
                Lá, encontrou a maior parte dos grupos já debutados e mais da metade dos Juniors da agência amontoados no auditório. Eles sentaram na primeira fileira de cadeiras, com os membros do NEWS ao lado e do Kanjani8 logo atrás. Há tempos não havia uma reunião do tipo.
                Jun cumprimentou Nishikido Ryo, com quem saia para beber com alguma frequência, e virou-se para a frente, ignorando os outros membros do Kanjani8. Nino, que estava sentado ao lado de Jun, tinha o DS em mãos e jogava concentrado.
                – Desliga. – Jun murmurou para Nino.
                – Espera, estou terminando essa fase...–  Nino respondeu, movendo os dedos freneticamente.
                Jun tomou o DS de suas mãos e fechou, guardando-o no bolso da calça enquanto Nino observava perplexo, ciente de que não adiantava protestar.
                – Que tipo de exemplo quer dar aos nosso kouhais? – Jun reclamou.
                O velho Johnny Kitagawa subiu no pequeno palco e tomou o microfone em mãos. Sua voz ecoou em todos os cantos do auditório, e todos dirigiram a atenção a ele. Jun percebeu que era algo sério, pela expressão do chefe.
                Ele explicou como começou com a JE, há tantos anos atrás, e sem muitas delongas, chegou a parte que importava.
                – Sei como a agenda de vocês é apertada, então serei breve. – Johnny Kitagawa apoiou-se à bancada – Em alguns meses pretendo me afastar da empresa.
                Um breve segundo de silencio pesado encheu o auditório e após esse momento de choque, o burburinho começou. Os senpais não conseguiam conter o espanto, não conseguiam ver a Johnny’s Enterteinment sem o velho Kitagawa-mãos-de-ferro.
                – Há algum tempo venho pensando em quem seria a melhor pessoa para me suceder, analisando cada um dos meus subordinados e por fim, vi potencial em alguém que estava mais perto do que eu imaginava. – ele continuou, todos se calaram – Há alguns anos ela vem gerenciando os grupos chineses e mostra-se mais eficiente a cada dia.
                Na deixa, uma mulher de expressão séria subiu no palco, postando-se ao lado direito do chefe. Jun ouviu um ruído de pavor vindo de trás de si, e com uma rápida olhadela para trás viu Ryo cobrindo a boca, os olhos arregalados.
                A moça tomou em mãos o microfone que o chefe lhe oferecia, e ainda séria, dirigiu-se a todos.
                – Maeda Yuuki deshita. Yoroshiku onegaishimasu! – ela curvou-se e devolveu o microfone ao chefe.
                Ela tinha os cabelos negros presos num coque apertado, no alto da cabeça. Sua saia de comprimento médio e a camisa verde de botões lhe davam um ar ainda mais sério, mas que não se sobressaía a sua beleza.
                Jun tirou do bolso o cartão que estivera afixado ao seu limpador de para-brisa e verificou o nome.

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Nota: não há previsão para um segundo capítulo, mas prometo trabalhar nele o mais rápido possível. Aguardo por comentários, e espero que gostem. =)

Agradecimentos: Jessika Zilli, que me apoiou pra escrever e mostrar um Jun diferente do que eu sempre vi; Lhaisa Andria, por sempre me apoiar em tudo o que digo que vou escrever e prontamente revisar (seus comentários são os mais engraçados!); Vanessa Ishikawa, por ter sido a primeira a ler, e me incentivar a postar; Yukari, por dizer que o título estava errado e me ensinar o certo; e finalmente, mas não menos importante, à Thais Lemos que foi a primeira a ouvir minha ideia louca e fez essa capa linda demais! <3 Arigatou!